domingo, 6 de janeiro de 2008

Mapa dos Fichamentos

Aqui você encontra os seguintes fichamentos feitos pelas peruquetes:

* Relatório - A Mídia dos Jovens
* Pragmática do Jornalismo
* Jornalismo de Revista
* Imprensa Feminina
* Jornalismo em revistas no Brasil

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sábado, 5 de janeiro de 2008

Relatório - A Mídia dos Jovens, edição especial comemorativa de 10 anos, com destaque para a cobertura do período 2005-2006


Atualmente, a ANDI analisa o comportamento editorial de 54 jornais e 4 revistas na cobertura dos temas da infância e da adolescência.


Pg 03 – Apresentação - Uma Questão de perspectiva.

“... ainda com muita freqüência surgem vozes acusando a chamada Mídia Jovem de tratar leitores, ouvintes e telespectadores essencialmente a partir da perspectiva do consumidor-ou seja, oferecendo publicações e programas com pouca consistência informativa ou reflexiva”.

“Boa fatia da responsabilidade, sem dúvida, pode ser atribuída à própria visão preconceituosa que nossa sociedade ainda dedica aos jovens: se estes são inconseqüentes e alienados, nada mais lógico que os conteúdos midiáticos a eles dirigidos também apresentem baixa qualidade”.

“Além de reconhecer a influência na formação de valores, mentalidades e atitudes, vale observar ainda a capacidade dos meios de comunicação em estimular o desenvolvimento de uma visão crítica e de uma postura mais participativa entre o público jovem”.



Pg 04 – Cap I – Entre avanços e limites.

“Por meio de uma metodologia específica, tem sido possível, por exemplo, acompanhar a evolução do espaço dedicado por essas publicações ao debate de temáticas centrais para a agenda da juventude”.

“... ao ser medido pela primeira vez, em 1997, não passava dos 24,2%, agora já alcança o excelente patamar dos 65%”.


Pg 04 – Dentro e fora da pauta.

“Apesar do recorde no número de textos com foco em assuntos socialmente relevantes, é importante ressaltar que estas diferentes pautas não recebem igual tratamento por parte dos veículos. Enquanto alguns assuntos merecidamente atraem muita atenção, outras questões também importantes para a agenda da juventude acabam ficando à margem”.

“... matérias relacionadas à Educação são as mais freqüentes. Elas respondem por 27% de todo o material analisado em 2006”.

“... a Violência foi debatida em apenas 0,58% dos textos. Entre 2004 e 2006, houve uma redução de mais da metade do volume de reportagens sobre o fenômeno”.- Pg 05

“Questões como Gravidez e Aids aparecem em menos de 1% do material e se configuram como as menos abordadas pelas matérias das revistas e suplementos.
Por outro lado, essas questões aparecem em destaque quando são analisadas as Colunas de Consulta, que publicam respostas a dúvidas enviadas por leitoras e leitores. Nessas seções, Gravidez e Aids aparecem como o terceiro e o quarto assunto mais debatido, respectivamente”. - Pg 05


Pg 05 – Diferenças no papel.

“O número de matérias sobre Temas de Diversidade caiu 58,8% entre 2004 e 2006”.

“Entre os conteúdos que tratavam de disparidades sócio-econômicas, boa parte centrou-se nas políticas de reservas de vagas universitárias para estudantes da rede pública de ensino”.


Pg 05 – Aposta no Brasil?

“Apenas 3,03% dos textos abordam questões referentes à Política em 2006. Desse pequeno grupo, 13,07% focalizaram políticas públicas”.

“Fatos políticos em geral e eleições representaram 66,47% das matérias sobre questões de cunho político”.

“O debate sobre o voto facultativo, importante para os jovens de 16 a 18 anos, foi foco de 20,45% desses textos. Um aumento de 50% em relação a 2004”.



Pg 06 – Voz e vez.

“Cada vez mais, os suplementos e revistas estão garantindo espaço para que a juventude expresse sua visão”.

“..., as vozes femininas contam com uma ligeira predominância no que se refere aos atores ouvidos”.


Pg 06 – Além do consumo.

“Questões socialmente relevantes estão cada vez mais presentes nas páginas das revistas dedicadas ao público juvenil. Ainda assim, o enfoque nessas temáticas segue sendo sensivelmente mais tímido do que a verificado nos suplementos de jornais”.

“A publicação de pautas relacionadas à Sexualidade foi um das principais motivos para o incremento do Índice de Relevância Social das revistas ao longo de 2005 e 2006. A quantidade de textos sobre o tema cresceu 83%”.

“Apesar de sua relevância, as Colunas de Consulta vêm deixando de ser utilizadas por diversos veículos. Em 2004, metade dos cadernos e revistas analisados fazia uso desse recurso. Em 2006, apenas sete destinaram espaço às dúvidas dos jovens, o que representa 30% do universo analisado”.


Pg 07 – Cap II – Na trilha da juventude.

“Ao longo da década de 1990, diferentes demandas da juventude passaram a ganhar maior evidência no cenário brasileiro – encontravam, entretanto, uma sociedade muito influenciada por olhares cristalizados: os jovens seriam por definição problemáticos, rebeldes e com forte tendência a alienar-se das questões mais relevantes para seu entorno e para o País”.

“Mesmo assim, mudanças em escala começavam a se consolidar”.

“... começa a perder espaço a noção de que as mudanças características dos garotos e garotas dizem respeito somente a aspectos relacionados ao comportamento e ao desenvolvimento físico e biológico...”.

“... ganhavam eco leituras realizadas a partir do paradigma da cidadania e do desenvolvimento...”.

“Entretanto, ao mesmo tempo em que o adolescente e o jovem começavam a ser reconhecidos como sujeitos de direitos, fortalecia-se a tendência de encará- los como consumidores”.


Pg 08 – Reflexos na mídia.

“A valorização da população juvenil em diferentes esferas motivou as empresas de comunicação a desenvolver publicações e programas voltados diretamente a esse público”.

“Ainda que nesse primeiro momento prevalecesse fortemente nas iniciativas um viés centrado na ótica do consumo, experiências jornalísticas importantes já começavam a despontar, inserindo aos poucos no debate público uma abordagem centrada na garantia de direitos. Esses suplementos e revistas juvenis eram focados, prioritariamente, nos públicos de classe média...”.


Pg 09 –Parceria produtiva.

“Ao mesmo tempo em que ocorria uma expansão do número de veículos voltados para garotos e garotas, havia uma crise de identidade sobre o verdadeiro papel desse tipo de publicação ”.


Pg 10 – O desafio da relevância.

“O desafio da Coordenação de Mídia Jovem, entretanto, era maior do que investir no estímulo ao tratamento de questões de maior consistência reflexiva. O objetivo estava em fortalecer tanto o papel do profissional quanto o dos próprios suplementos e revistas. Diversos relatos de quem trabalhava na área mostram que, nas redações, o foco nos garotos e garotas era visto como um tipo menor de jornalismo – ou seja, havia uma desvalorização tanto do jornalista quanto dos leitores”. Pg –11


Pg 11 – Encontros marcados.

“..., o contato com os grupos juvenis colaborou para incentivar a constituição de conselhos editoriais jovens nos veículos”. Pg – 12


Pg 12 – Processos de transformação.

“Em grande parte, os profissionais decidiram apostar na possibilidade de abordar questões de maior densidade sem comprometer uma das características principais dos comunicadores que se dirigem a juventude: a linguagem inovadora e criativa”.



Pg 14 – Cap III – Dez anos de evolução.

“... suplementos e revistas têm avançado frente ao desafio de conciliar os princípios do bom jornalismo a um enfoque e linguagem que atraiam o público juvenil. Isso fica evidente quando são analisados os dados relacionados ao Índice de Relevância Social e ao Ranking Quanti-Qualitativo”,

“Diante desse quadro, um dado preocupante, porém, chama a atenção. De 2004 até agosto de 2007, seis de 26 suplementos e páginas de jornais analisados nesse período haviam deixado de circular”.

“..., levando os jovens a perder um importante canal de debate”.


Pg 14 - Relevância social.

“Em 2006, 14 dos 18 suplementos analisados registraram, em mais de 50% de seus textos um foco em assuntos capazes de estimular um processo reflexivo junto a seus leitores – os chamados Temas de Relevância Social”.

“Se por um lado cadernos que já haviam alcançado um bom índice em 2004 mantiveram a tendência, outros de perfil até então mais limitado conseguiram ampliar a cobertura sobre temáticas cidadãs”.Pg-15


Pg 20 – Perdas e danos.

“Ainda que, de maneira geral, a diversidade das pautas e o nível de qualidade das matérias não tenham sido fortemente afetados, não resta dúvida de que o encerramento da atividade dessas publicações, originárias de diferentes estados da federação, fragiliza consideravelmente o debate público sobre os temas de interesse da juventude”.


Pg 21 – Cap IV – Muitas juventudes, muitas agendas.

“Longe de ser homogênea, a população juvenil apresenta diferentes perfis, estilos e identidades,... Tal característica dificulta a formulação de um retrato mais detalhado desse segmento etário, ainda que esforços em tal sentido venham sendo empreendidos nos últimos anos”.

“Exemplo qualificado desses esforços é a pesquisa Perfil da Juventude Brasileira – divulgada em 2004 pelo Projeto Juventude,... os assuntos que mais interessam a garotos e garotas, aponta o levantamento do Instituto Cidadania, educação, emprego e cultura figuram no topo da lista. Não por acaso, em 2005 e 2006 esses três aspectos responderam, juntos, por cerca de 57% da cobertura da Mídia Jovem”.

“Ainda que os veículos continuem a oferecer visibilidade significativa a temáticas de menor densidade informativa, a análise da cobertura revela que a tendência é que cada vez mais eles se afastem do estereótipo que associa o jovem ao consumismo, à futilidade e à despolitização”.


Pg 22 – Pautas ocultas.

“Já no campo das preocupações que mais afligem os jovens, a pesquisa do Instituto Cidadania revela que a violência surge em primeiro lugar, seguida da questão do emprego (mencionada, ao mesmo tempo, como um interesse e como uma preocupação) e das drogas. No âmbito da cobertura, no entanto, dois desses aspectos não têm encontrado maior repercussão: Violência e Drogas estão no grupo dos assuntos menos abordados pelos veículos de Mídia Jovem em 2005 e 2006. O mesmo ocorre com outros debates importantes para esse segmento da população, como aqueles relacionados à gravidez na adolescência, ao meio ambiente e à Aids/DSTs”.


Pg 23 –Educação: debate prioritário.

“Não é novidade a percepção de que o Brasil apresenta uma lacuna no que diz respeito aos investimentos na área da educação. Dois em cada dez jovens de 15 a 17 anos estão fora da sala de aula; outros quatro freqüentam o Ensino Fundamental e apenas quatro cursam o Ensino Médio,...”.

“Nesse cenário, resta aos veículos o desafio de aprofundar a abordagem, expandindo seu foco para além das questões relacionadas ao vestibular e das dicas de ensino – alguns dos aspectos que contam com presença freqüente na cobertura”.


Pg 24 –Ferramenta para a cidadania.

“Outro tema que vem merecendo destaque em suplementos e revistas é o que congrega questões associadas à prática desportiva. Diversos estudos mostram a importância do esporte para o desenvolvimento integral do adolescente – não apenas em relação à saúde, mas também como estratégia de fortalecimento de sua cidadania”.

“Diferentemente do que ocorre nos cadernos especializados da grande imprensa, os conteúdos sobre Esportes veiculados pela Mídia Jovem não apresentam um perfil factual. Em geral, as matérias buscam incentivar a prática esportiva, trazem abordagens sobre as características e os benefícios das diversas atividades físicas e procuram documentar as perspectivas de inclusão social geradas por iniciativas com essa natureza”.


Pg 26 –Questões esquecidas.

“Apesar do significativo avanço registrado na cobertura dos temas de relevância social, algumas preocupações centrais dos jovens – reveladas pela pesquisa Perfil da Juventude Brasileira, do Instituto Cidadania – estão, como já mencionado, longe de ocuparem o topo das prioridades da Mídia Jovem. Assuntos como Violência, Aids e Drogas colecionam historicamente colocações pouco honrosas...”.

“..., pautá-las exige criatividade, pois os suplementos e revistas não podem contar com o conforto de uma cobertura centrada no factual. Assim, repórteres e editores enfrentam o desafio de enfocar tais questões a partir de uma ótica inovadora, capaz de motivar seus leitores. A capacidade de atingir este equilíbrio tem sido constatada na maioria das vezes em que os assuntos são inseridos na pauta – o que permite cobrar maior compromisso dos veículos com o fortalecimento do debate”.

Preocupação ignorada – Pg 26.
Limites editoriais – Pg 27.


Pg 28 –Em busca de novos enfoques.

“Embora os editores sejam praticamente unânimes ao afirmar que temas considerados mais áridos – e com viés de relevância social – também devem estar na pauta dos veículos direcionados ao público juvenil, muitas vezes a concretização desse preceito esbarra na falta de novidades a serem abordadas em relação às diferentes temáticas”.

“Contribui para essa dificuldade o fato da maioria dos órgãos oficiais não produzirem dados desagregados relacionados aos jovens”.

Gravidez na adolescência – Pg 29.



Pg 31 – Cap V – Fazendo a diferença.

“A relevância da implementação de ações públicas destinadas ao público juvenil já vem sendo sinalizada há alguns anos por especialistas”.

“Exemplo disso é o fato do próprio Banco Mundial ter elegido o tema, em 2007, como foco de seu relatório global sobre desenvolvimento. “Investir em jovens contribui para a luta contra a pobreza”, afirma o documento. Os dois estudos divulgados pelo organismo internacional contribuem para reforçar a percepção de que a juventude deve constituir uma das populações prioritárias para as ações públicas no Brasil. O que inclui não somente iniciativas de caráter econômico – como a inserção no mercado de trabalho, por exemplo. Para que possamos ter nos jovens um vetor fundamental para o desenvolvimento sustentável do País é necessária a conscientização e mobilização dos diversos segmentos da sociedade”.



Pg 32 –Atentos às ações públicas.

“...no início de 2005 que o governo federal lançou a pedra fundamental das políticas focadas na população jovem. Em fevereiro daquele ano, foi sancionada a Medida Provisória nº 238, criando três instâncias específicas para lidar com os problemas enfrentados por cidadãos e cidadãs de 15 a 24 anos de idade: o Conselho Nacional de Juventude (Conjuve), a Secretaria Nacional de Juventude e o Programa Nacional de Inclusão de Jovens (ProJovem), todas elas diretamente vinculadas à Presidência da República”.

“O que se observou na análise da cobertura realizada em 2005 e 2006, no entanto, foi um movimento contrário – uma retração no volume de matérias sobre Políticas Públicas de Juventude em comparação a 2004”.

“Mesmo levando-se em conta o fato de que o público-alvo dos suplementos e revistas não corresponde ao enfocado pelas políticas públicas de juventude, não diminui a responsabilidade de veículos e jornalistas frente ao agendamento dessas questões”.


Pg 34 –Ações descentralizadas.

“A articulação entre políticas setoriais voltadas para jovens é a grande aposta para a melhoria dos indicadores sociais envolvendo esse segmento da população. Em 2007, o próprio governo admitiu a necessidade de empreender novos esforços no atendimento a esse grupo etário”.

“A faixa etária do público-alvo também foi ampliada: passou de 24 para 29 anos. A meta é incluir quatro milhões de jovens até 2010”.


Pg 34 – Novos olhares.

“Apesar da força que o debate sobre as políticas públicas de juventude vem ganhando no cenário nacional, não se pode deixar de reconhecer que tem se tornado mais difícil construir enfoques criativos relacionados ao tema. Isso porque a institucionalização da pauta acaba por transformá-la em questão rotineira”.

Pg 36 – Cap VI – Escolha consciente.


Pg 37 – Exercício democrático.

“Desde a Constituição de 1988, adolescentes de 16 e 17 anos têm garantido o direito de participar na escolha de nossos governantes e também dos membros do Legislativo. Nos últimos quatro anos, o índice de jovens que optaram por colocar em prática essa prerrogativa cresceu 39,3%, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Somente em 2006, mais de três milhões de adolescentes tiraram o Título de Eleitor”.

“A relevância dessa questão não significa, porém, que todos os veículos de Mídia Jovem estejam decididos a lhe garantir visibilidade”.


Pg 38 - Despolitização.

“Embora venha crescendo, o número de adolescentes com título de eleitor ainda corresponde a cerca de 45% da população na faixa entre 16 e 17 anos, segundo projeção do IBGE”.

“De acordo com a pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, realizada pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) e o Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais (Polis), 28% dos jovens têm algum engajamento em grupos ou associações – igrejas, partidos políticos, instituições da sociedade civil ou movimento estudantil. Realizado entre julho de 2004 e novembro de 2005, o estudo ouviu 8 mil garotos e garotas de 15 a 24 anos em sete regiões metropolitanas (Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), além do Distrito Federal”.



Pg 40 – Cap VII – É a vez e a voz do jovem.

“Estudos revelam que os jovens são mais ativos na sociedade do que os adultos. Quase um terço dos meninos e meninas de 15 a 24 anos fazem parte de algum grupo. Quando a idade vai aumentando, a participação diminui, segundo a pesquisa Juventudes e Democracias: participação, esferas e políticas públicas, do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). Além disso, eles têm um alto grau de interesse em política, ao contrário do que comumente se pensa”.

“... a redução no volume de textos sobre a questão não significa um arrefecimento da participação juvenil. Apenas demonstra que a imprensa muitas vezes não está sintonizada com os processos de mobilização da juventude. Isso acontece, em grande parte, porque a imagem que a sociedade ainda guarda a respeito da participação segue muito voltada para as movimentações das décadas de 1960, 1970 e 1980, contra a ditadura e a favor da abertura política”.


Pg 41 – Em queda livre.

“O comportamento da Mídia Jovem também não acompanhou tal transformação. Em 2004, suplementos e revistas publicaram 158 inserções sobre Protagonismo/Participação. Em 2006, apenas 60 (1,07% do total de matérias com enfoque socialmente relevante)”.


Pg 42 – Espaços para a interação.

“Dar visibilidade às opiniões dos adolescentes sem dúvida é um grande mérito de revistas e suplementos da Mídia Jovem. Tal comportamento, além de aproximar os veículos de seu público-alvo, também contribui para que as questões que afetam essa parcela da população sejam priorizadas na agenda pública”.

“É importante ressaltar, contudo, que não é tarefa simples dar voz a essa parcela da população. O jovem nem sempre está preparado ou disposto a falar sobre determinados assuntos. É preciso que o jornalista desenvolva maneiras específicas de abordagem e forneça subsídios para reflexões consistentes”.


Pg 43 – Interatividade.

“De fato, é cada vez mais notável os esforços dos veículos para que seu público interaja, de alguma forma, com o processo de construção das decisões editoriais. Por um lado, esta prática ajuda a alavancar vendas, ao contribuir para que a Mídia Jovem reflita mais acuradamente às percepções de quem a lê. Por outro, também vai ao encontro de um direito fundamental garantido no artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU”.

“Uma das estratégias encontradas pelos veículos para estimular essa interação consiste na formação de conselhos editoriais jovens. Oferecendo verdadeiro espaço para os adolescentes opinarem e até mesmo contribuírem diretamente na produção de matérias, os conselhos podem funcionar como instrumento de aprendizado e formação tanto de jornalistas como de adolescentes”.

“Vale ressaltar que, no caso de muitos dos suplementos e seções..., a falta de infra-estrutura não raro torna inviável constituir conselhos de jovens. Isso se aplica, especialmente, àqueles que ocupam apenas uma página semanal em um determinado caderno do jornal e não contam com equipe fixa”.


Pg 44 – Alternativas para o contato.

“Mesmo sem contar com conselhos editorias, não são poucos os suplementos e revistas que vêm demonstrando vontade em consultar a opinião dos jovens. Nesse sentido, a internet representa uma importante ferramenta. O site de relacionamentos Orkut, por exemplo, vem sendo usado por alguns veículos para ampliar sua interação com os leitores”.


Pg 45 – Vozes ocultas.

“É notória a vontade de equilibrar os depoimentos de garotos e garotas com opiniões mais técnicas, qualificando assim a informação veiculada”.

“Especialistas são ouvidos em mais de metade das matérias sobre Gravidez, Saúde e Esportes. Em relação à quantidade de fontes ouvidas, entretanto, a Mídia Jovem revela poucos avanços quando comparamos os dados de 2006 aos de análises anteriores: juntos, adolescentes e especialistas somam mais da metade do total de atores consultados”.

“Outras vozes também importantes acabam ocupando espaço limitado na cobertura. São restritos os casos de reportagens que tragam, por exemplo, um contraponto entre a opinião de especialistas e de representantes do setor governamental”.


Pg 45 – Restrita repercussão.

“A baixa presença de vozes oficiais reflete, em certa medida, a tendência dos veículos em não abordar os temas sob a ótica das políticas públicas”.

“A impressão que fica é a de que a Mídia Jovem não exercita o papel de fiscalização das ações de governo e deixa de cobrar políticas públicas eficazes em relação a problemas que afetam, direta ou indiretamente, os seus leitores”. Pg - 46.

“Nesse cenário, cabe apontar um importante avanço. Nas matérias que abordam questões relacionadas a Direitos & Justiça, o índice de fontes governamentais é expressivamente maior, chegando a quase 40% dos textos. A presença mais consistente dessas vozes contribui para que as reportagens abandonem uma perspectiva individualizada dos problemas e tragam para o debate uma visão abrangente, conectada aos direitos da juventude”. Pg - 46


Pg 46 – Ouvindo a sociedade.

“Por outro lado, a ausência da opinião dos familiares dos adolescentes constitui uma grave lacuna no trabalho dos jornalistas. Pais, mães e parentes em geral não somam mais do que 1,5% das fontes ouvidas em 2006 – e 1,73%, em 2005. De certa forma, é como se os veículos da Mídia Jovem deixassem de reconhecer a relevância que o contexto familiar tem para a vida dos garotos e garotas”.

Os “Sem-fonte” - Pg 46



Pg 47 – Cap VIII – Jovens invisíveis.

“Os números – obtidos pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas, com base em microdados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – contribuem para ilustrar o forte impacto que questões como gênero, etnia e região geram na realidade da juventude brasileira. Não apenas no âmbito das oportunidades profissionais, mas também em outras esferas da vida, como a sexualidade, a educação e o lazer”.

“Não por acaso, desde o início do processo de redemocratização do País, especialmente a partir do final da década de 1980, grupos representativos de segmentos populacionais discriminados – tais como negros, mulheres e homossexuais – passaram a reivindicar maior espaço no debate público em relação à promoção e garantia de seus direitos”.

“Tal percepção contribui para evidenciar o importante papel que suplementos e revistas dedicados ao público juvenil podem – e devem – desempenhar, seja na ampliação do nível de informação e conscientização de seus leitores sobre essa realidade, seja no fortalecimento do combate a situações de preconceito e discriminação”.


Pg 48 – Realidade desigual.

“O Brasil é o oitavo país do mundo no ranking da desigualdade social, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Nesse cenário, a juventude aparece como um dos segmentos mais afetados da população. Apesar de sua relevância, esse é um debate que vem encontrando pouca repercussão nas páginas de suplementos e revistas”.

“... mesmo que o público-alvo das publicações não seja, a princípio, diretamente atingido pela desigualdade social, ao dar pouca atenção a essas questões a Mídia Jovem contribui para reforçar o fosso existente entre incluídos e excluídos socialmente”.


Pg 49 – Questões de étnicas em pauta.

“Mais do que características biológicas ou antropológicas, as diferenças de cor/etnia podem interferir diretamente nas oportunidades de que dispõe grande parte desse segmento populacional”.

“Em diversos momentos da cobertura produzida no biênio 2005-2006, repórteres e editores das publicações dirigidas a jovens demonstraram interesse em abordar esse cenário de disparidades, ainda que com um foco específico”.


Pg 50 – Olhar regionalizado.

“A investigação sobre as diversidades regionais e a comparação entre a realidade das diferentes localidades do País é praticamente nula na cobertura dos veículos”.

Diferença de gênero – Pg 50
Foco na liberdade sexual – Pg 50


Pg 51 – Deficiência.

“No Brasil, cerca de 3 bilhões de jovens possuem algum tipo de deficiência – grupo que corresponde a 14,5% do total de nossa juventude, segundo dados do IBGE. Apesar de tal representatividade, esse é um segmento ainda praticamente invisível para a sociedade. Segundo o documento Diretrizes para uma Política Nacional de Juventude, publicada pelo Conselho Nacional de Juventude em 2006, a primeira dificuldade para focalizar essa parcela da população está na ausência de estatísticas consistentes.”

“A inclusão e os desafios a serem superados por essa população foram o enfoque dado pela maioria das matérias de Mídia Jovem sobre o tema”.

Pg 52 – Cap IX – Para além do consumo.


Pg 50 – Debate cotidiano

“A publicação de pautas relacionadas à Sexualidade foi um das principais motivos para o incremento do Índice de Relevância Social das revistas ao longo de 2005 e 2006. A quantidade de textos sobre o tema cresceu 83%”.

“Apesar da ampla repercussão do assunto no conjunto das revistas de Mídia Jovem, alguns enfoques importantes relacionados a essa agenda permaneceram fora da pauta. Seguindo a tendência registrada nos suplementos voltados ao público juvenil, as revistas reduziram sensivelmente a atenção a questões centrais, como a prevenção à Aids/DSTs e a gravidez indesejada”. – pg 54.


Pg 55 – Fala que eu te escuto.

“Contando muitas vezes com um espaço nobre em suplementos e revistas de Mídia Jovem, as Colunas de Consulta constituem uma importante estratégia de interação entre os jornalistas e seu público leitor”.

“... as seções de perguntas e respostas se consolidaram como um mecanismo de confidência, informação e socialização para garotos e garotas”.

“Apesar de sua relevância, no entanto, esse recurso vem deixando de ser utilizado por diversos veículos. Em 2004, metade dos cadernos e revistas analisados no relatório A Mídia dos Jovens fazia uso desse tipo de estratégia”.

“O impacto mais evidente dessa queda está refletido na redução do volume de perguntas respondidas. Enquanto em 2004, haviam sido contabilizadas 924 inserções, dois anos depois esse total ficou em 625”.

“Essa expressiva diminuição no número de espaços de consulta não significa, contudo, uma mudança no padrão de qualidade das colunas. Pelo contrário: o Índice de Relevância Social dessas seções aumentou significativamente em 2005”.


Pg 55 – Lacunas a preencher.

“Diante da ampla e importante função que as Colunas de Consulta passam a assumir para leitores e leitoras, não causa espanto o fato de a Sexualidade ser o tema mais solicitado pelos que escrevem para essas seções. No biênio 2005-2006, representou quase metade dos espaços dedicados às perguntas dos adolescentes”.

“É, entretanto, em relação a questões que permanecem ocultas em outras seções dos suplementos e revistas que a Coluna de Consulta adquire um papel ainda mais especial: Gravidez e Aids/DSTs se apresentam como o 3o e o 4o assuntos socialmente relevantes mais abordados pelos leitores e leitoras em suas dúvidas”.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Fichamento: Pragmática do Jornalismo: buscas práticas para uma teoria da ação jornalística



Manuel Carlos Chaparro
São Paulo: Summus, 1994.
edição; 136 p.

A obra de Manuel Carlos Chaparro propõe uma maneira de fazer jornalismo baseada na ética profissional e no interesse dos leitores. Ele analisa o conteúdo informativo dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo dos anos de 1991 e 1992. Nestes veículos, ele investiga as intenções que moldam os bastidores das redações e como a informação pode ser manipulada.

O livro é dividido em quatro partes e apresenta diversos exemplos do que se deve e do que não se deve fazer na profissão, baseando-se em notícias contraditórias, manipuladas de acordo com conveniências, censuradas pelo manual e com erros na apuração, o que faz derrubar o mito da neutralidade jornalística.

O termo pragmática origina-se do grego pragmatikós = relativo aos atos que devem ser feitos. A Pragmática é o ramo da ciência que se dedica à “análise das funções dos enunciados lingüísticos e de suas características nos processos sociais”. A conexão entre Jornalismo e Pragmática está no reconhecimento de que a utilização da língua não se reduz a produzir um enunciado, mas é a execução de uma ação social.

EmPragmática viva”, primeira parte da obra, o autor “disseca” notícias dos dois jornais observando critérios como relevância social, confronto de interesses e impacto. Na segunda parte do livro, intitulada de “O poder de (des)informar”, Chaparro fala sobre o poder do boato, a incompetência na apuração, as declarações em off e a capacitação de fontes no desenvolvimento de conteúdo jornalístico. em “O poder da norma”, ele desvenda o quepor trás das normas dos manuais de redação de ambos os jornais. E na última parte da obra, “Propostas Teóricas”, Chaparro relaciona a atividade jornalística aos padrões de ética e moral.



INTRODUÇÃO

Jornalismo: fazeres intencionados

Pg 13
“A proposta final deste livro confere ao componente intenção valor de atributo de equilíbrio e unidade do bom texto jornalístico, entendido como o relato verdadeiro e compreensível da atualidade. Na essência dessa proposta está a convicção de que a intenção é a liga que funde Ética, Técnica e Estética, tríade solidária e inseparável das ações jornalísticas.”

“As pesquisas e reflexões que conduziram a essa proposta, e lhe dão sustentação, desenvolveram-se a partir e em torno de três inquietações desencadeadoras:

1 – Como se manifestam, se escondem ou se simulam os propósitos que motivam e as intenções que controlam as mensagens jornalísticas, na imprensa diária brasileira?

2 – Que interesses estão conectados a tais propósitos e que princípios éticos inspiram as intenções ordenadoras da ação jornalística?

3 – Que influencia a explicitação ou não explicitação das intenções exerce na vontade do leitor, no que se refere à decisão de ler ou não ler, aceitar ou rejeitar a mensagem?”


“Na busca de respostas, dois caminhos foram seguidos, simultâneos e convergentes:

a) Um caminho de observação, para captação de dados e indícios que permitissem construir um cenário significativo de praticas jornalísticas, na convicção que essas praticas, se observadas com critérios, são inevitavelmente inovadoras de propósitos e intenções do “fazer”.

b) O outro caminho foi a busca de conexões teóricas para o entendimento e a explicação dos fenômenos observados e para a sustentação da proposta final do trabalho”.

“A Pragmática é o ramo da ciência que se dedica à “analise das funções dos enunciados lingüísticos e de suas características nos processos sociais”.

“A nosso ver, o jornalismo tem na Pragmática o canal de conexão com o saber e a erudição da Lingüística, que, ao lado da Sociologia, pode ser considerada a ciência-mãe da Comunicação”.

Como ciência, a Pragmática a partir dos anos 60 se desenvolveu, ganhando característica interdisciplinar”.

Lamiquiz: “Pragmática é o fenômeno das relações dos elementos discursivos com os usuários, falante produtor e ouvinte interpretador do enunciado, e com as condições ambientais em que se produz a intercomunicação. A pragmática é, pois, independente do funcionamento lingüístico, mas participa eficientemente no resultado comunicativo desse funcionamento”.



Parte I

Pragmática Viva

Capítulo 1: Racionamento de água em São Paulo – Pg 29

  • Título da matéria do Estado de S. Paulo:“A Sabesp mente sobre o rodízio
  • Argumentação sustentada por 3 depoimentos, 1 entrevistado desmentiu a sua fala publicada no jornal que era” A Sabesp precisa se organizar melhor, assim como o País
  • A Sabesp não teve espaço para esclarecer o assunto na matéria, mas a cada 15 dias ela distribui release de onde irá faltar água.
  • O editor Eduardo Lopes Martins Filho diz que não é obrigado publicar os releases e questiona se não pode ser comprado o espaço de prestação de serviço.
  • Suspeita: de que a falta de água na casa do diretor de redação tenha motivado a matéria
  • Desabafo da repórter: “Eu não queria fazer esse tipo de coisa. Mas se a gente não fizer, outro vem e faz. Somos perfeitamente substituíveis”.
  • Pauta direcionada, se não pegasse a Sabesp mentido não seria publicada a matéria.

Capitulo 2: Tempos de Magri: ribalta e bastidores – Pg 34

  • Situação: Ministro se reúne as portas fechadas com sindicato para discutir o aumento de salário.
  • Na coletiva depois da reunião os participantes responderam as perguntas de forma orquestrada.
  • Repórter da Folha deu ênfase a conversa com suas fontes do que informações da coletiva.
  • O diretor da Fiesp declarou em OFF que o reajuste dos salários está ligado a alta dos preços.
  • Com flexibilidade o repórter publicou: O diretor previu que as negociações devem abranger não os salários mas também ao aumento dos preços.
  • Pontos esquecidos na matéria: o lado sindical e suas manifestações
  • Justiça Trabalhista de SP em greve, como se cumpriria a livre negociação se os tribunais estavam fechados?

Capítulo 3: Interpretação livre – Pg 37

  • A médica, socióloga e coordenadora do movimento Católicas Pelo Direito de Decidir deu entrevista para uma reportagem para comemorar o Dia Internacional da Mulher.
  • Título da matériaCatólica defende aborto”, mas a médica uruguaia não disse isso, e seu grupo não defende isso, essas e outras falas foram distorcidas ao longo da matéria.
  • O que o movimento defende é: “o direito de livre escolha e a possibilidade legal de realizar o aborto”.
  • O título não traduz as falas da entrevistada e nem as reivindicações do movimento.
  • A fala da entrevistada: “A sexualidade assumida pelos padres é a de Maria e a de suas próprias mães” e conclui, “em matéria de mulheres, os padres conhecem a Virgem Maria”.
  • O que foi publicado: “Em matéria de mulheres os padres conhecem a Virgem Maria”.
  • A repórter se apropriou das falas e idéias da entrevistada, dando-lhe significados e sentidos diferentes.

Capítulo 4: Um repórter que opta - Pg 40

  • Título da matéria: Frota de ônibus tem crescimento tímido com a municipalização”.
  • Descobre se um erro nas contas do repórter: o saldo de carros novos incorporados a frota é de 55 veículos, e não de 45.
  • O texto perpassa um tom negativo dado pelo título, que explora a ideia do crescimento tímido.
  • O enfoque saiu do real, mas a abordagem da matéria se manteve no aspecto negativo.
  • Defesa do editor: Buscou-se um ponto de conflito, e não é necessariamente má .
  • Defesa do repórter: Ele reconheceu que tinha dados para fazer uma matéria diferente, mas preferiu a timidez no crescimento.
  • Opinião do repórter: “eu digo que é tímida porque esse é o dado que, a meu ver, atende o interesse imediato do usuário”. O espaço é limitado, e além do mais o texto não foi mudado”.

Capítulo 5: A isca e o peixe - Pg 42

  • Fato divulgado pela assessoria: Inauguração do hospital pela prefeita.
  • Após a inauguração houve uma coletiva e a prefeita falou do possível aumento dos preços da passagem de ônibus.
  • Foto da matéria da Folha: a prefeita na cozinha do hospital e a matéria falava do possível reajuste nos preços do ônibus.
  • A massa dos jornais trataram a notícia de formas semelhante.
  • Fator de conflito: Entre um fato que existe, inauguração do hospital, e o fato que não existe, o aumento da tarifa, se nãoreajuste nãonotícia, por que deram a notícia incompleta?

Capítulo 6: O Rombo do IPESP – Pg 44

Data: 04 de janeiro de 1990

Jornal: Estado de São Paulo

Título da reportagem: Assembléia desvia um milhão de dólares

Texto de chamada:
Uma verba de NCz$ 20 milhões, destinada a obras de reforma do prédio da Assembléia Legislativa de São Paulo, foi desviada para cobrir parte do rombo da caixa de previdência que paga a aposentadoria vitalícia dos deputados. O desvio foi feito com aparência legal e ajuda do governador Orestes Quércia. O dinheiro chegou à Assembléia quando não havia mais tempo para o início das obras e por isso foi devolvido ao Tesouro estadual, que repassou ao Fundo da Previdência. Quércia havia doado ao fundo outros NCz$ 4,5 milhões.

Equipe jornal:

Repórter: Patrícia Zaidan

Editora assistente de política: Ana Maria Tahan

Editor: Laurentino Gomes


Fontes da reportagem

Deputado: Nabi Abi Chedid

Assessora de imprensa do deputado Roberto Gouveia (Fonte) que luta pela extinção da carteira previdenciária


Capítulo 7: A Greve Bancada – Pg 47

Data: 09 de junho de 1990

Jornal: Folha de S. Paulo

Título da reportagem: Polícia em greve faz 30% das ocorrências

No primeiro dia de greve dos funcionários da polícia Civil do Estado de São Paulo, as ocorrências de furto de carros, homicídios e flagrantes foram atendidas nos distritos da capital (30% do total). No Deic, os inquéritos sobre homicídios ficaram parados.

No livro não cita o nome do repórter e de sua equipe

Parte II

O Poder de (Des)Informar

Essa parte do livro trata do poder do boato, da incompetência na apuração, das declarações em off e da capacitação de fontes no desenvolvimento de conteúdo jornalístico.


Capítulo 1: O espaço da incompetência – Pg 57

Diálogo entre dois amigos, um da Folha de S.Paulo e outro do O Estado de S.Paulo, a respeito do caso do tubarão de Cananéia, noticiado em 10 de Dezembro de 1992.

Na Folha (leitor A): o tubarão era fêmea, estava grávida, media 5 metros de comprimento, pesava cerca de 2 toneladas.

No Estado (leitor B): o tubarão também era fêmea e estava grávida, mas media 7 metros de comprimento e pesava 2 toneladas e meia.


Pg 58

A verdade sobre o caso: o tubarão media 5 metros e trinta centímetros, pesava duas toneladas e meia, era fêmea, mas não estava grávida.

Para medir tubarões existem técnicas específicas. Um leigo é incapaz de avaliar com precisão o comprimento de um tubarão de grande porte. Ora, se o comprimento do tubarão capturado era a informação mais importante (gerou o título da notícia nos dois jornais concorrentes), os repórteres (...) em vez de usarem o próprio olhômetro ou as estimativas dos pescadores, deveriam ter obtido o dado exato junto aos especialistas da (...), que no dia estavam em Cananéia. Os pesquisadores (...) estavam , acessíveis aos jornalistas. Mas, no dia seguinte, os jornais publicaram informações incorretas e contraditórias, colhidas de fontes não citadas ou inadequadas, e impingidas aos leitores como confiáveis”.

“Os jornalistas foram apressados: (...) quando íamos de Santos para Cananéia, cruzamos com equipes da televisão que estavam voltando”.



Pg 59

“No estômago havia no estômago havia quatro cabeças de tubarões adultos, e pedaços de outro peixe e de um mamífero marinho. (...) uma das quatro cabeças encontradas no estômago pertencia a um tubarão de provavelmente 60 quilos. (...) em determinadas fases, acumulam (...) por isso ela parecia grávida”.

“Aconteceu, portanto, uma trapalhada jornalística (...) jamais souberam a verdadeira razão da falsa gravidez”.

“Os leitores (...) deixaram de ser informados sobre a alta significação científica do achado (...) informações que interessam aos centros de pesquisa especializada em todo o mundo”.

Como a pressa não é desculpa aceitável para imprecisões informativas (...) com que Cremilda Medina compõe o perfil ideal (...) a pauta foi mal cuidada, carente de ambições (...) captura do tubarão iria proporcionar”.



Pg 60

“A Veja (...) aproveitou as primeiras informações dos jornais, sem as checar. (...) 60 quilos no estômago”.

“A irrelevância política, cultural e econômica do acontecimento (...) remete a explicação dessa exibição de mau jornalismo para o campo da incompetência, aquele tipo de incompetência que se preocupa, apenas, com a ressonância dos títulos e as inexplicáveis vaidades da mediocridade”.

“O livre exercício do poder da incompetência condenou os leitores à informação deformada e incompleta”.



Capítulo
2 - A Força do Boato – Pg 61


Pg 61

Fortemente influenciado pelos interesses das fontes, intervenientes preparados (...) para usar (...) os meios e processos jornalísticos”.


Pg 62

Rumor, para a Folha de S.Paulo, é uma notícia que corre, verdadeira ou não. De acordo com o Novo Manual de Redação (...) esse tipo de informação se publica com o devido registro do que se trata de notícia não confirmada e desde que seja informação com indícios de relevância e não haja tempo de confirmar a exatidão dos dados”.

O velho boato

Pg 63

“O trânsito conceitual entre rumor e boato não agrada à Folha (...) Na origem latina ela significa “mugido ou berro de boi” (...) relaciona-se com a atualidade, fazendo circular informações que interferem nela”.

Pg 64

Boato: notícia anônima que corre publicamente, sem confirmação. Rumor é apenas um ruído, murmúrio de vozes, burburinho, efeito físico, pois. A carga de ambigüidade lhe dá, também, significado de notícia, informação, fama”.

“O boato motiva pautas, esconde ou expõe fatos, amplia ou reduz a dimensão dos acontecimentos, altera-lhes o significado, atrai ou repele a curiosidade dos repórteres, motiva ou inibe perguntas, direciona reportagens, gera ou elimina manchetes, produz desmentidos ou confirmações – e ao provocar tais efeitos (...) pode determinar ou modificar as intenções das mensagens jornalísticas, adequando-as aos interesses a que está vinculado”.

Ferramenta especializada das fontes, o boato circula em todas as áreas de interesse jornalístico, em especial na política, nos negócios e no mundo das estrelas. As próprias redações (...) azeitam esquemas nunca revelados para captar boatos em nichos bem situados nos vários centros de poder”.

“O off é a mais nobre e corriqueira prática do boato.”.

“O off é uma das almas da cultura jornalística”.

“O Estado de S.Paulo recomenda cuidados na utilização do off (...) se convier que não apareça no noticiário”.

“A Folha chega a exagerar. (...) para nortear o trabalho jornalístico”.


Pg 65

Kapferer: “Antes de existir a escrita (...) cada um passou a ter o seu território de propagação”.

Quem primeiro pesquisou o tema foram os americanos (...) Guerra Mundial”.

Allport e Postam: “o boato é uma proposição ligada aos acontecimentos do dia, destinada a ser acreditada, transmitida (...) a sua exatidão”.

Knapp: “uma declaração destinada (...) confirmação oficial”.

Peterson e Gist: “uma apreciação (...) de interesse público”.

“Na síntese, dois atributos principais caracterizam o boato (...) seja falso ou verdadeiro”.

Kapferer: “O boato exprime (...) parte da informação e dos media”.


Pg 66

Para Kapferer, ao atingir (...) torna-se informação falsa”.


Capítulo 4: A “arbitragem” nas redações – Pg 74

Duas notícias de ambos os jornais, com títulos e enfoques diferentes, a respeito de Roberto Pupo Moreno elogiando/criticando Interlagos.

O Estado: deu enfoque a crítica (no título), mas falou da tal crítica no segundo parágrafo.

A Folha: lead com elogios de Moreno.


Pg 75

“As observações feitas para a versão de O Estado devem ser (...) e quem decidiu que fosse assim?”.

Qualquer leitor mais crítico que tivesse lido os dois jornais (...) igualmente com a parcela de poder suficiente, produziu o título elogioso”.

Duas notícias sobre o reveillon organizado pela Administração Regional de Pinheiros, na av. Henrique Shaumann, na passagem de ano de 1991 para 1992.

O Estado: “Reveillon lota rua em Pinheiros”, assunto principal da página 2 do caderno Cidades.

Em subtítulo, informação que atribuía significado cultural ao acontecimento, e outra sugerindo idéia de sucesso, relatando uma festa alegre, descontraída e com elevado nível de participação popular.

A Folha: “Reveillon de rua em SP vira festa petista” na chamada da primeira página e o título na página 2 de Cotidiano “Erundina faz Reveillon eleitoral em Pinheiros”.


Fazer e Impedir

Pg 77

“Diz Marc Paillet que nenhum jornalista tem contato direto e permanente com os fatos. “Ele se dirige, portanto, aos informantes, de primeira ou segunda mão: as fontes”. E é precisamente que se produz o acontecimento essencial do fenômeno informativo estudado por Paillet – o abismo que separa o relato jornalístico da realidade dos fatos”.

Pg 79

Pertence à competência do jornalista transformar o acontecimento em notícia. Como defende Albertos, o fato se transforma em notícia desde que “haja sido recolhido, interpretado e valorado pelos sujeitos promotores que controlam o meio utilizado para a difusão”.

“Nas camadas superiores estão aqueles a quem Paillet chama de árbitros (diretores, editores, pauteiros, editorialistas, chefes de reportagem e até repórteres com prestígio pessoal), que decidem o que, quando e como publicar. Eles definem conteúdos, prioridades, relevâncias, enfoques, propósitos e a disposição final dos textos, a relação entre eles e a sua apresentação”.

Sem o poder de decisão final, mas com a capacidade atribuída de fazer notícias, existem as camadas “proletárias”, formadas pelos diferentes níveis de profissionais colhedores das informações, em contato direto ou indireto com os autores, atores e intérpretes dos acontecimentos. São os árbitros, porém, que decidem o essencial, interferindo em dois momentos fundamentais (...). Aos árbitros pertence, ainda, o poder da “última olhada no pacote de mensagens” a ser enviado ao público, depois que as informações escolhidas recebem o tratamento técnico de acabamento, por parte de secretários de redação (...)”.

“Essa capacidade de decidir o que informar e como informar resulta no exercício diário de um poder concreto. Como ensina (...) a teoria “é uma prática”.


E o Leitor?

Pg 80

“Pode-se não saber ao certo quem detém o poder. Mas sabe-se muito bem quem não o possui”.

Pg 81

“O leitor, por exemplo, raramente consegue interferir em conteúdos e intenções. Embora nos discursos de marketing dos jornais o leitor seja a razão central dos objetivos jornalísticos, na prática ele recebe tratamento de consumidor”.

“Na Folha, o manual em vigor (...) tem dois verbetes sobre o leitor.”

*
Mandato do leitor*

*Outro verbete*

“No Manual de Redação e Estilo de O Estado de S.Paulo, o leitor nem verbete merece. Para compensar, há uma referência logo no primeiro item (...) não ser justoexigir que o leitor faça complicados exercícios mentais para compreender a matéria”.


Pg 82

“O que prevalece na definição do espaço do leitor, por parte dos dois jornais, é a visão utilitária da empresa editora, para a qual o jornal é um produto, e como tal se deve relacionar com o mercado”.

Em nenhum momento se capta, na leitura dos manuais de redação dos dois jornais, qualquer preocupação ou reflexão mais sociológica ou cultural que trate o leitor como sujeito de um processo de comunicação e cidadão com direitos específicos”.

*Artigo 19 da Declaração Universal de Direitos*

“A liberdade de informação (...) refere-se tanto à possibilidade de difundir quanto ao direito de receber informações. Quando um jornal ou um jornalista subtrai a verdade ao leitor, ou o ilude com artifícios ou falsas intenções, o direito à liberdade de informação está sendo vilipendiado”.

“A universalidade do direito consagrado pelo artigo 19 (...) é tão grande quanto a própria Declaração, como assinala Desantes. E ele fala de uma discriminação social evidente: a das multidões que não podem interferir nem ter acesso aos meios informativos, por estarem esses meios nas mãos de oligopólios, controladores da informação”.

“O direito à informação é privilégio do leitor, não do jornalista nem dos jornais”.

Sempre que um editor ou um repórterpor incompetência, arrogância, interesse pessoal, ambição de poder, irresponsabilidade profissional, subalternidade a quem o controla ou qualquer outro motivo – priva o leitor da notícia correta e plena, trai o principal e mais belo dos compromissos que tem com a construção e o aperfeiçoamento de uma sociedade livre: assegurar a “todo indivíduo” o direito de ser informado. Com o relato veraz”.