sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Fichamento: Pragmática do Jornalismo: buscas práticas para uma teoria da ação jornalística



Manuel Carlos Chaparro
São Paulo: Summus, 1994.
edição; 136 p.

A obra de Manuel Carlos Chaparro propõe uma maneira de fazer jornalismo baseada na ética profissional e no interesse dos leitores. Ele analisa o conteúdo informativo dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo dos anos de 1991 e 1992. Nestes veículos, ele investiga as intenções que moldam os bastidores das redações e como a informação pode ser manipulada.

O livro é dividido em quatro partes e apresenta diversos exemplos do que se deve e do que não se deve fazer na profissão, baseando-se em notícias contraditórias, manipuladas de acordo com conveniências, censuradas pelo manual e com erros na apuração, o que faz derrubar o mito da neutralidade jornalística.

O termo pragmática origina-se do grego pragmatikós = relativo aos atos que devem ser feitos. A Pragmática é o ramo da ciência que se dedica à “análise das funções dos enunciados lingüísticos e de suas características nos processos sociais”. A conexão entre Jornalismo e Pragmática está no reconhecimento de que a utilização da língua não se reduz a produzir um enunciado, mas é a execução de uma ação social.

EmPragmática viva”, primeira parte da obra, o autor “disseca” notícias dos dois jornais observando critérios como relevância social, confronto de interesses e impacto. Na segunda parte do livro, intitulada de “O poder de (des)informar”, Chaparro fala sobre o poder do boato, a incompetência na apuração, as declarações em off e a capacitação de fontes no desenvolvimento de conteúdo jornalístico. em “O poder da norma”, ele desvenda o quepor trás das normas dos manuais de redação de ambos os jornais. E na última parte da obra, “Propostas Teóricas”, Chaparro relaciona a atividade jornalística aos padrões de ética e moral.



INTRODUÇÃO

Jornalismo: fazeres intencionados

Pg 13
“A proposta final deste livro confere ao componente intenção valor de atributo de equilíbrio e unidade do bom texto jornalístico, entendido como o relato verdadeiro e compreensível da atualidade. Na essência dessa proposta está a convicção de que a intenção é a liga que funde Ética, Técnica e Estética, tríade solidária e inseparável das ações jornalísticas.”

“As pesquisas e reflexões que conduziram a essa proposta, e lhe dão sustentação, desenvolveram-se a partir e em torno de três inquietações desencadeadoras:

1 – Como se manifestam, se escondem ou se simulam os propósitos que motivam e as intenções que controlam as mensagens jornalísticas, na imprensa diária brasileira?

2 – Que interesses estão conectados a tais propósitos e que princípios éticos inspiram as intenções ordenadoras da ação jornalística?

3 – Que influencia a explicitação ou não explicitação das intenções exerce na vontade do leitor, no que se refere à decisão de ler ou não ler, aceitar ou rejeitar a mensagem?”


“Na busca de respostas, dois caminhos foram seguidos, simultâneos e convergentes:

a) Um caminho de observação, para captação de dados e indícios que permitissem construir um cenário significativo de praticas jornalísticas, na convicção que essas praticas, se observadas com critérios, são inevitavelmente inovadoras de propósitos e intenções do “fazer”.

b) O outro caminho foi a busca de conexões teóricas para o entendimento e a explicação dos fenômenos observados e para a sustentação da proposta final do trabalho”.

“A Pragmática é o ramo da ciência que se dedica à “analise das funções dos enunciados lingüísticos e de suas características nos processos sociais”.

“A nosso ver, o jornalismo tem na Pragmática o canal de conexão com o saber e a erudição da Lingüística, que, ao lado da Sociologia, pode ser considerada a ciência-mãe da Comunicação”.

Como ciência, a Pragmática a partir dos anos 60 se desenvolveu, ganhando característica interdisciplinar”.

Lamiquiz: “Pragmática é o fenômeno das relações dos elementos discursivos com os usuários, falante produtor e ouvinte interpretador do enunciado, e com as condições ambientais em que se produz a intercomunicação. A pragmática é, pois, independente do funcionamento lingüístico, mas participa eficientemente no resultado comunicativo desse funcionamento”.



Parte I

Pragmática Viva

Capítulo 1: Racionamento de água em São Paulo – Pg 29

  • Título da matéria do Estado de S. Paulo:“A Sabesp mente sobre o rodízio
  • Argumentação sustentada por 3 depoimentos, 1 entrevistado desmentiu a sua fala publicada no jornal que era” A Sabesp precisa se organizar melhor, assim como o País
  • A Sabesp não teve espaço para esclarecer o assunto na matéria, mas a cada 15 dias ela distribui release de onde irá faltar água.
  • O editor Eduardo Lopes Martins Filho diz que não é obrigado publicar os releases e questiona se não pode ser comprado o espaço de prestação de serviço.
  • Suspeita: de que a falta de água na casa do diretor de redação tenha motivado a matéria
  • Desabafo da repórter: “Eu não queria fazer esse tipo de coisa. Mas se a gente não fizer, outro vem e faz. Somos perfeitamente substituíveis”.
  • Pauta direcionada, se não pegasse a Sabesp mentido não seria publicada a matéria.

Capitulo 2: Tempos de Magri: ribalta e bastidores – Pg 34

  • Situação: Ministro se reúne as portas fechadas com sindicato para discutir o aumento de salário.
  • Na coletiva depois da reunião os participantes responderam as perguntas de forma orquestrada.
  • Repórter da Folha deu ênfase a conversa com suas fontes do que informações da coletiva.
  • O diretor da Fiesp declarou em OFF que o reajuste dos salários está ligado a alta dos preços.
  • Com flexibilidade o repórter publicou: O diretor previu que as negociações devem abranger não os salários mas também ao aumento dos preços.
  • Pontos esquecidos na matéria: o lado sindical e suas manifestações
  • Justiça Trabalhista de SP em greve, como se cumpriria a livre negociação se os tribunais estavam fechados?

Capítulo 3: Interpretação livre – Pg 37

  • A médica, socióloga e coordenadora do movimento Católicas Pelo Direito de Decidir deu entrevista para uma reportagem para comemorar o Dia Internacional da Mulher.
  • Título da matériaCatólica defende aborto”, mas a médica uruguaia não disse isso, e seu grupo não defende isso, essas e outras falas foram distorcidas ao longo da matéria.
  • O que o movimento defende é: “o direito de livre escolha e a possibilidade legal de realizar o aborto”.
  • O título não traduz as falas da entrevistada e nem as reivindicações do movimento.
  • A fala da entrevistada: “A sexualidade assumida pelos padres é a de Maria e a de suas próprias mães” e conclui, “em matéria de mulheres, os padres conhecem a Virgem Maria”.
  • O que foi publicado: “Em matéria de mulheres os padres conhecem a Virgem Maria”.
  • A repórter se apropriou das falas e idéias da entrevistada, dando-lhe significados e sentidos diferentes.

Capítulo 4: Um repórter que opta - Pg 40

  • Título da matéria: Frota de ônibus tem crescimento tímido com a municipalização”.
  • Descobre se um erro nas contas do repórter: o saldo de carros novos incorporados a frota é de 55 veículos, e não de 45.
  • O texto perpassa um tom negativo dado pelo título, que explora a ideia do crescimento tímido.
  • O enfoque saiu do real, mas a abordagem da matéria se manteve no aspecto negativo.
  • Defesa do editor: Buscou-se um ponto de conflito, e não é necessariamente má .
  • Defesa do repórter: Ele reconheceu que tinha dados para fazer uma matéria diferente, mas preferiu a timidez no crescimento.
  • Opinião do repórter: “eu digo que é tímida porque esse é o dado que, a meu ver, atende o interesse imediato do usuário”. O espaço é limitado, e além do mais o texto não foi mudado”.

Capítulo 5: A isca e o peixe - Pg 42

  • Fato divulgado pela assessoria: Inauguração do hospital pela prefeita.
  • Após a inauguração houve uma coletiva e a prefeita falou do possível aumento dos preços da passagem de ônibus.
  • Foto da matéria da Folha: a prefeita na cozinha do hospital e a matéria falava do possível reajuste nos preços do ônibus.
  • A massa dos jornais trataram a notícia de formas semelhante.
  • Fator de conflito: Entre um fato que existe, inauguração do hospital, e o fato que não existe, o aumento da tarifa, se nãoreajuste nãonotícia, por que deram a notícia incompleta?

Capítulo 6: O Rombo do IPESP – Pg 44

Data: 04 de janeiro de 1990

Jornal: Estado de São Paulo

Título da reportagem: Assembléia desvia um milhão de dólares

Texto de chamada:
Uma verba de NCz$ 20 milhões, destinada a obras de reforma do prédio da Assembléia Legislativa de São Paulo, foi desviada para cobrir parte do rombo da caixa de previdência que paga a aposentadoria vitalícia dos deputados. O desvio foi feito com aparência legal e ajuda do governador Orestes Quércia. O dinheiro chegou à Assembléia quando não havia mais tempo para o início das obras e por isso foi devolvido ao Tesouro estadual, que repassou ao Fundo da Previdência. Quércia havia doado ao fundo outros NCz$ 4,5 milhões.

Equipe jornal:

Repórter: Patrícia Zaidan

Editora assistente de política: Ana Maria Tahan

Editor: Laurentino Gomes


Fontes da reportagem

Deputado: Nabi Abi Chedid

Assessora de imprensa do deputado Roberto Gouveia (Fonte) que luta pela extinção da carteira previdenciária


Capítulo 7: A Greve Bancada – Pg 47

Data: 09 de junho de 1990

Jornal: Folha de S. Paulo

Título da reportagem: Polícia em greve faz 30% das ocorrências

No primeiro dia de greve dos funcionários da polícia Civil do Estado de São Paulo, as ocorrências de furto de carros, homicídios e flagrantes foram atendidas nos distritos da capital (30% do total). No Deic, os inquéritos sobre homicídios ficaram parados.

No livro não cita o nome do repórter e de sua equipe

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